"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Que seja doce, que seja livre, que seja verdadeiro

O que não podemos esquecer é que temos apenas uma vida, apenas uma oportunidade de cativar e ser cativado. As coisas boas da vida são tão simples. Um beijo, um abraço, uma ligação, um simples “estou aqui”, são imprescindíveis para nos tornar mais felizes, amáveis.
Sem ter o prazer das coisas simples, nos tornamos amargos, cruéis, envenenando a todos com a nossa falta de amor próprio, insegurança e, principalmente, falta de fé nas pessoas.
Não temos a real noção de como nossas atitudes interferem na vida de quem está ao nosso redor. Podemos ser amados ou odiados por causa de uma simples frase. Uma palavra de carinho na hora certa ou uma afirmação impulsiva no momento errado, nos torna vilões ou mocinhos num piscar de olhos. Por isso, devemos nos policiar, deixar sempre palavras doces aos que amamos e palavras de respeito ao que não nos são caros.
Parafraseando Carl von Clausewitz "O vencedor é sempre amigo da paz". Os perdedores gritam, esperneam, falam coisas sem sentido, sem pensar, se baseiam em impressões superficiais. O vencedor se cala, compreende. Essa é a diferença entre eles. Sempre que o vencedor for lembrado, um sorriso automático brotará nos lábios de quem lembrou dele.
Acho que não inventaram algo melhor e mais bonito que o amor, a amizade, a verdade e a compreensão. Sem essas quatro coisas, o homem pode juntar toda fortuna do mundo e, ainda assim, se sentir vazio.  Por outro lado, nenhum dinheiro pode pagar a alegria de ter alguém para compartilhar pequenos momentos: um fim de tarde, um filme, uma ligação de boa noite.
Ter com quem contar, ter para quem voltar, um abraço apertado quando o mundo não nos sorri é uma dádiva, um presente e a prova da existência de Deus em nossas vidas.
Escrevi esse texto em 2009, na capa do meu exemplar do livro "O pequeno príncipe".

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Contidamente, continuamos

O nome do blog foi extraído do texto "Vai passar" de Caio F. Abreu. É um dos textos mais bonitos e sinceros que eu já li. Não sei se é porque ele me ajudou num momento difícil e, até hoje, sempre que alguma coisa não sai da maneira que eu quero e, em momentos, bate um desespero, uma vontade de chorar, uma decepção com as pessoas, eu leio novamente (e novamente, novamente) e lembro que, independente do que me aconteça, vai passar.

Leia:

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez".

Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência".

E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.

Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam.

Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.

Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:

- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A solidão que nos protege

Na revista Veja desta semana tem uma reportagem sobre os estudos do psicólogo americano John Cacioppo, em que ele fala sobre solidão. Segundo ele, a sensação de isolamento tem efeitos semelhantes a fome e a dor. Ele defende também a idéia de que não é preciso casar para ser feliz e que as redes sociais como o facebook, são boas desde que não substituam as interações na vida real. Cacioppo explica que a solidão tem um forte componente genético. Por isso, algumas pessoas precisam de menos companhia do que outras.

EVOLUÇÃO – A solidão não é apenas isolamento físico. Muitas pessoas podem estar casadas, com filhos e ainda assim estar sós. É o ditado “estar só no meio da multidão”. Caracterizada pela sensação de vazio, a solidão nos motiva a mudar, procurar companhia. Foi por causa da solidão que os homens procuraram se agregar, pois estar em sociedade é imprescindível para a sobrevivência e a prosperidade.

GENÉTICA – A solidão é 50% hereditária e 50% circunstancial. Num contexto evolutivo, os mais sensíveis ao isolamento são aqueles que não se desgarram facilmente do grupo, fazendo tudo para mantê-lo unido. Os menos sensíveis ao isolamento são capazes de explorar novos ambientes. Um não é melhor que o outro, os dois são necessários para a preservação da espécie.

TIMIDEZ – Se você é introvertido não significa que é solitário. Por exemplo, uma pessoa pode se sentir completa com apenas um bom amigo. O que importa é a qualidade das relações.



SER FELIZ SOZINHO – Ser feliz sem compromisso é frustração na certa. Por exemplo, hoje eu decido ser feliz nos próximos seis meses, comprando tudo que sempre quis, fazendo tudo que sempre quis fazer, vou esquecer de prestar atenção nas pessoas. Assim, terei problemas na qualidade das minhas relações. O que faz uma pessoa feliz são as relações que estabelece com as outras, a solidão é a ausência de contatos significativos. Mas, novamente, não é porque sou solteira que sou sozinha, posso ser casada e ser sozinha. O que é pior que ser só, pois só, tenho possibilidades maiores de me relacionar com outras pessoas. Mas, na nossa sociedade, a idéia de felicidade está associada ao casamento, união amorosa.

TEMPO PARA SI – Para manter um bom contato com as pessoas, você precisa se distanciar delas de vez em quando, ou tudo ficará cansativo. As pessoas não trazem apenas coisas boas, elas possuem demandas. É preciso dar um passo pra trás, para alcançar o equilíbrio. Lembrando que ficar só, não é o mesmo que ser solitário.

EGOCENTRISMO – A solidão quando ignorada pode comprometer a capacidade do indivíduo de se relacionar. Igual a fome, se a gente não faz nada, vai chegar um momento que prejudicaremos o nosso organismo e não conseguiremos mais procurar comida. Como defesa, a pessoa se preocupa mais consigo mesma, como forma de proteção. Ele fica tão focada em si que compromete sua capacidade de estabelecer contato com o outro, pois sempre se coloca acima de tudo e todos.

CÁSULO – Solitários crônicos tendem a se retrair e não sabem o porque isso acontece. Eles contribuem para o próprio isolamento. Para isso mudar, é preciso estabelecer contato com outras pessoas, começar a interagir, ajudar as pessoas. É preciso também selecionar os amigos com cuidado. Temos a tendência a supervalorizar os momentos ruins e desvalorizar os bons, isso também contribui para solidão.

REDES SOCIAIS - Tudo depende de que forma você usa as redes sociais. Se são usadas como substituto para a realidade física, elas incrementam a solidão, mas se são complementos da vida real, são benéficas.

MAIS SOBRE O TEMA: AQUI e AQUI

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Já fui Vicky, já fui Cristina e nunca estive em Barcelona

Duas amigas em férias de verão na Espanha se encantado com o mesmo pintor, sem saber que sua ex-esposa, com quem tem uma relação tempestuosa, está prestes a voltar a entrar na imagem. Esse é o resumo do filme Vicky Cristina Barcelona. Mas, não estou aqui para falar sobre ele. Vou falar do que ele representa para mim, rs.

Não sei se ele me ajudou a mudar minha vida, mas, a primeira vez que eu assisti esse filme, pensamentos estranhos começaram a povoar minha cabeça. Parei de me punir por pensar diferente das pessoas com quem me relacionava e aceitei minhas diferenças.

Começando. Quando digo já fui Vicky, me refiro a minha parte prática, conservadora e tradicional. Aquela que colocou o desejo de casar, ter filhos e constituir uma família “normal” acima de tudo. 

Quando descubro a Cristina em mim, falo de uma mulher que não sabe bem o que quer, mas sabe muito bem o que não quer. Ela repete isso inúmeras vezes durante o filme e sempre me identifiquei com essa frase. 

Eu poderia dizer também que sou um pouco Maria Elena, interpretada pela diva Penélope Cruz. Maria Elena vive num mundo sombrio e perturbado, encontrando em Cristina a sintonia perfeita com Juan Antonio, o seu eterno amor. Um amor estranho, que segundo ela (Maria Elena) define, só é romântico porque não pode ser realizado

O que esses personagens tão diferentes possuem em comum? E o que eles possuem em comum comigo? Todos lutam (cada um da sua maneira) pela FELICIDADE.
Como Vicky já busquei a estabilidade como forma de encontrar felicidade. Por um tempo, acreditei ser a forma ideal de viver. Mas, não foi bem assim. A vida foi ficando morna, esfriando e, quando vi, estava gélida. Igual a Cristina, não aceitava a vida de Vicky e resolvi me entregar de vez ao amor. Me joguei de cara, deixei tudo para trás e encarei uma aventura. Tudo é fantasioso no mundo das aventuras. Tudo é maior. O seu amor é maior, seu sofrimento é maior. Você nunca está satisfeita. Isso também me cansou. Mergulhei então no universo da Maria Elena, descobrindo meus medos, buscando em mim formas de sair do vazio e encontrar a felicidade.

Não foi Vicky, nem foi Cristina que me salvou. Tampouco Maria Elena. Foi eu. Acho que estou chegando perto de encontrar o equilíbrio necessário para prosseguir. No mais, recomendo que assistam esse filme. Vale uma reflexão.




*_*

Ela redescobriu o frio na barriga, a vontade de se enfeitar, se perfumar para alguém. Ela descobriu que ser frágil não é um defeito, se encantar não é uma fraqueza. 


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

‎"Não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa"


Vamos compartilhar esse exemplo de vida, de força de vontade e de FELICIDADE! Para quem está reclamando tanto, de problemas tão pequenos, vale a pena assistir.


Quanto vale sua vida?

Era o que ela pensava enquanto olhava a agulha enfiada em suas mãos e o soro pingando gota a gota, numa sinfonia desajeitada que a incomodava profundamente. Quanto vale a minha vida? O que estou fazendo aqui? Como cheguei a esse ponto? Sozinha, sem amigos, sem ninguém, ela começou a pensar nos caminhos que a levaram aquela situação. Tudo começou com uma situação mal resolvida que a fez, num impulso, ingerir todos os comprimidos que estavam ao seu alcance. Para que? “Para sentirem pena de mim e me perdoarem mais facilmente”. A troco de que? Vômitos, mal estar e vergonha. Abaixo segue o relato de uma mulher que tentou acabar com a própria vida:

“Não quero ser exemplo de como se deve ou não agir diante de uma situação de desespero. Quero apenas compartilhar minha dor, para que aqueles, que assim como eu, já passaram por uma situação semelhante possam tomar uma atitude diferente da minha e encarar os problemas de frente, com o peito aberto e com a coragem de um verdadeiro guerreiro.
Tentei me matar. Na verdade, não sei se tentei ou se queria apenas minimizar meu erro. Hoje sei que a quantidade de comprimidos não foi suficiente para matar o meu organismo, mas, fez mudanças radicais em minha vida.
Eu não sabia quais os efeitos daqueles remédios sobre o meu corpo e passei a imaginar como morreria. Do mal estar para as fores dores de cabeça e tontura. Da tontura para os vômitos. Tudo isso em uma tarde que quero esquecer. Por isso estou te dando esse depoimento. Para desabafar e tornar o esquecimento mais fácil. Faz sentido? Falar para esquecer? Não sei, mas esconder também não resolveu.
Entenda garota, não tem mal pior do que fazer mal a alguém. A impotência diante do sofrimento alheio causado por você é a pior das dores. Nunca tinha convivido com ela e não soube lidar quando a dor saiu destroçando cada parte do meu corpo, me punindo por ter sido tão fraca e imoral. Não quero entrar em detalhes do que aconteceu, mas quero te dizer e, espero que você passe para a maior quantidade de pessoas que puder que: a gente é muito maior que os nossos erros. Hoje eu sei disso. Depois de ter me encontrado com a morte, a falta de amor próprio, a raiva de mim mesma. Hoje eu sei que a vida é mais do que isso. 
Quando meu corpo não aguentava mais e eu parei de culpar os outros pelos meus erros, caminhei lentamente em direção ao Pronto Socorro mais próximo. As pessoas me olhavam como se soubessem o que eu fiz, um senhor me parou e perguntou se eu estava bem, tamanha era minha palidez. Cheguei ao hospital e aguardei pacientemente o atendimento. Não tive coragem de contar o que aconteceu ao médico, mas, depois de muita insistência eu falei e ele passou uma medicação. Enquanto tomava a medicação, uma frase martelava na minha cabeça: Você é a única culpada por isso tudo.
Peguei no sono com essa frase na mente e, quando acordei, entendi o seu sentido. Eu me coloquei naquela situação, com escolhas erradas, atitudes impensadas, impulsivas e frias. Atitudes de  alguém que vivia em mim e  eu não conhecia, alguém que contrastava com a pessoa alegre, doce e espontânea que eu sou.
E, num momento de fraqueza, num ímpeto de acabar com o sofrimento de todos, tentei me matar. Mentira, isso é um depoimento, não posso mentir, queria mesmo acabar com o meu sofrimento. Por isso não deu certo, até nisso fui egoísta e Deus, num ato magnífico de amor, me fez viver para pagar o que fiz e consertar os meus erros.
Duas horas de observação e, finalmente, pude sair do hospital. A quem ouvir, ler, reescrever esse texto, tenho um pedido a fazer: não descaracterize o meu depoimento. Não sinta pena de mim e não sinta pena de você. Quando eu saí daquele hospital, era outra pessoa. Uma pessoa mais forte, com os pensamentos no lugar. Naquelas horas que passei sozinha, apenas com o olhar de pena da enfermeira pousando sobre mim de vez em quando, pensei no que deveria fazer da minha vida e estou fazendo diariamente um exercício de autoconhecimento.
Saí do hospital com os braços abertos para a vida, para os acertos e, porque não, para os erros também. Todos nós erramos. Compreender isso é o primeiro passo para o nosso amadurecimento. Atitudes infantis como a minha devem ser minimizadas, repudiadas e não seguidas. Devem ser vistas como um ato de desespero de uma pessoa que era fraca e hoje não é mais”.
 
A autora desse depoimento pediu para que sua identidade fosse mantida em segredo. 
 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A virgem dos lábios de Mel

Com personalidade forte e temperamento explosivo a mulher morena, de pele limpa e, de longe, macia como uma cereja, veste um capote branco ao avesso para se proteger do frio provocado pelo ar condicionado da sala fechada.

Traz no rosto características da miscigenação racial existentes no Brasil. Olhos negros pouco puxados, nariz fino e um pouco achatado além de lábios grossos que lembram Iracema, personagem de José de Alencar.

Apresenta espontaneidade no sorriso que num pequeno espaço de tempo fora interrompido várias vezes por olhares de desprezo e projeção dos lábios em forma de “bico” que simbolizam ironia. Andar arrastado, corpo magro, quadril largo, de média estatura e sem nenhum defeito físico aparente. Cabelos negros, presos em forma de “rabo de cavalo”, um pouco abaixo dos ombros e franja caída sob o rosto.

Possui uma tatuagem na nuca, uma letra, o “L” para ser mais preciso. Parece ser a inicial do nome de alguém querido. Talvez a mesma pessoa que a presenteou com um anel de brilhante, que pelo tamanho da pedra deve ter custado os olhos da cara.

Ainda usa brincos grandes de cor prata em forma de arcos que combinam com o conjunto de pulseiras que chacoalham ao andar, denunciando sua presença no ambiente. Tem um cheiro doce, de perfume feminino que lembra o frescor de um banho demorado no verão.

Em seu círculo de amizades parece ser companheira, afetiva e no mais íntimo do seu comportamento, tímida, apesar de quase nunca demonstrar tais características. Para um psicólogo, e aqui não pretendo ser um, seria uma pessoa que demonstra ser forte e extrovertida para passar às outras o ideal de mulher independente e decidida.


Roberta Costa, segundo Ted Sampaio (Contos de Esquina) em 1 de abril de 2008.
P.s: Não é mentira, rs.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cada vez mais, Pessoa

Desde que ganhei o livro "Citações e Pensamentos - Fernando Pessoa", organizado por Paulo Neves da Silva, não consigo parar de buscar significados para o que leio. O engraçado é que eu leio esse livro como a gente faz com aquele "Minutos de Sabedoria". Abro uma página aleatória e pronto. Começo a ler, como se fosse uma imposição do destino, dizendo: VOCÊ TEM QUE LER ISSO HOJE, VAI FAZER BEM, rs. Viajo em cada texto, poema, frase, citação. Em cada um, busco uma explicação para algo da minha vida.  (tem um "q" de auto ajuda nisso, rs ). Hoje eu li um poema em que Fernando Pessoa usa o heterônimo de Álvaro de Campos. Já tinha lido trechos isolados desse texto, mas não completo. Me identifiquei completamente. A simplicidade com que ele trata um assunto tão complexo como esse "QUEM SOU EU?" é brilhante:


Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.


E o dia nem começou...

Cinco da manhã, começa mais uma terça-feira. No quarto já claro, pois a janela não tem cortinas, a primeira imagem que tenho, são as fotos de parentes e amigos, distribuídas nos dois murais cor-de-rosa que enfeitam a parede amarela. 


O monitor do computador pisca, sinal que esqueci mais uma vez de desligá-lo antes de dormir. Olho pro relógio, olhos cheios de lágrimas, uma vontade enorme de chorar e, na maioria das vezes isso acontece. 


Pareço não acreditar que realmente tenho que levantar. Coloco o celular para despertar dez minutos depois e volto a dormir. Passados os tão rápidos e gostosos dez minutos, levanto


Arrumo a cama branca tubular com o lençol rosa, estampado com bonecas, abro o guarda-roupa simples de quatro portas e desligo o ventilador que, neste momento, já me incomoda. Escolho uma roupa pra ir à faculdade, abro a janela para me acostumar com o tempo e lembro que tenho que colocar uma cortina nela. 


Saia, blusa, sandália, bolsa, acessórios, muitos acessórios. Brincos, pulseiras, relógio, escapulário. Tudo arrumado em cima da cama. Ainda sonolenta, caminho descalça em direção a porta do quarto que dá de frente para o lavabo do banheiro. O espelho acusa. Olhos inchados, cabelos emaranhados, andar de zumbi. Não demoro ao lavar o rosto e parto para a cozinha. Lá encontro minha vó e já escuto a bronca:

- Calça a sandália menina. Vai ficar doente. O café tá na mesa.

Sento à mesa, não me importo com o que ela diz. Não sou muito sociável quando acordo esse horário. Nesse momento já são cinco e trinta. Tomo meu café com pão e manteiga numa xícara que não é a minha preferida. Não bebo leite pela manhã. Como a fruta que tiver na mesa, hoje teve banana e maça. O rádio já está ligado num programa AM que não me recordo o nome. O radialista dá as primeiras notícias do dia e a previsão do tempo. 



Volto pro quarto, pego a saboneteira amarela, a toalha azul e vou pro banho. Por que a água esse horário é tão fria? Visto a roupa, coloco os acessórios, confiro o dinheiro, passo pó compacto pra disfarçar as olheiras, um pouco de blush, carinhosamente chamado de “saúde” e um gloss cor-de-rosa. O cabelo é o que dá mais trabalho para arrumar. “Cabelo, poxa cabelo. Que é isso? Vamos conversar?” Pego o caderno e o classificador, saio do apartamento e vou pra frente do condomínio esperar a van para ir à Cachoeira. São seis e quinze da manhã.
Enquanto espero, converso com o porteiro sobre o tempo. A van chega por volta das seis e trinta. No percurso de Feira de Santana a Cachoeira, converso com meu amigo João Pedro, que ultimamente anda tão ausente, com o motorista Danilo, Ilani e alguns calouros. Mas, durmo a maior parte do percurso, para conseguir disfarçar o cansaço de quem dormiu às três da manhã


Chego em Cachoeira por volta das sete e quarenta, vou direto no bar de Gel, compro um copo descartável por cinco centavos, vou para o prédio do CAHL, bebo água, guardo o copo. No corredor que dá acesso a sala de aula, apago a luz que, desnecessariamente está acesa, entro na sala, sento, retoco a “saúde”, o gloss cor-de-rosa e penso:

“E o dia ainda nem começou!”



Texto publicado em 7 de abril de 2008, uma das épocas mais corridas da minha vida.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Solidão, nunca mais?

Não tenho medo de ficar só, não mais. Tenho medo de não ficar a vontade na minha companhia, de não me sentir feliz ouvindo meus pensamentos, de olhar no espelho e não enxergar quem eu gostaria. Esse sim, é um péssimo sentimento.

Por que é mais fácil ficar a vontade com os outros do que com nós mesmos?
Não entendo porque as pessoas não acreditam quando alguém diz que está feliz só. Deve ser porque, estar só, sempre está associado a coisas ruins, desprezo, falta de amigos. Eu, pelo contrário, considero uma necessidade. Não abro mão dos meus momentos de reclusão, por nada nem ninguém mais, pois acredito que ESTAR SÓ é um passo IMPORTANTE para o crescimento pessoal, para ouvir MEU próprio eu e encontrar as respostas para as perguntas que "martelam" em minha cabeça diariamente. 

Sêneca disse e eu concordo:
"Merecem louvor os homens que em si mesmos encontraram o impulso, e subiram nos seus próprios ombros."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

“Onde está o meu coração?”

Essa pergunta não sai da minha cabeça desde a segunda vez que ele me perguntou:

- Onde está o seu coração?

Acho que está aqui no meu peito, batendo, graças a Deus, pensei de imediato.

- Você só pensa em você, você não liga para ninguém, você não me dá atenção, você simplesmente não se importa.

Fiquei incrédula, que rapaz sincero. Nunca tinham me dito essas palavras assim, tão claramente. Permaneci imóvel no banco carona do carro, com a mão na maçaneta da porta, pronta para abrir. Queria sair dali o mais rápido possível, sem nem olhar para o lado. Ele confundia a minha cabeça. Afinal, não foi eu que sumi por dias seguidos e apareci como se nada tivesse acontecido.

- Você não vai falar nada?, disse.

- Eu não, falei baixinho.

- Te liguei e você não atendeu, falei no MSN, no face e você não me respondeu. Tive que vir em sua casa, você sai com esses olhos inchados, com essa cara de choro e não tem nada para me dizer?, falou exaltado.

- Você quer realmente saber por que eu estava chorando? Porque não te atendi quando ligou?, falei em um tom severo.

- Sim, preciso. Você desperta coisas estranhas em mim, um magnetismo, uma vontade de te ter perto. Mas, você é tão misteriosa, tão segura de si que eu não sei como agir ao seu lado. Preciso de algumas explicações para saber como lidar com você, disse calmamente.

Fiquei sem graça, mas nesse momento, eu estava mais preocupada em contar as janelas do meu prédio, as árvores do jardim e tentando contar os quadrinhos do playground. Tenho essa mania ridícula, mas consegui prestar atenção no que ele dizia.

- Eu estava chorando, porque abri sem querer um baú de recordações, revi coisas que não estava preparada para ver e chorei. Chorei por mim, pelas pessoas, pela vida. Chorei por tudo e, no auge da minha tristeza você ligou. Não queria te atender, nem te ver. Não só você. Não queria ver ninguém, só me recolher e pensar na vida, buscar soluções para os meus conflitos. E daí você chega aqui, descarrega isso tudo em mim, como se a gente fosse alguma coisa, me cobrando o que eu não posso te dar agora.

- Você estava chorando por outro homem?, falou de imediato.

- Não especificamente, estava chorando por algumas feridas abertas, algumas coisas que eu deixei guardadinhas num canto e, inexplicavelmente, pularam no meu colo num dia que eu não estava preparada para recordá-las. Não sei se você vai entender. Mas, foi isso...

- Então, você gosta de alguém?, perguntou cauteloso.

- Não especificamente, sinto falta de algumas pessoas, mas gostar como você está falando não, falei, ao mesmo tempo que me perguntava se realmente não estava gostando de alguém. A resposta foi negativa.

- Esperava que você dissesse que gosta de mim...

- Eu gosto de você, respondi automaticamente.

- Mas, você disse agora que não está gostando de ninguém, pontuou.

- Você está confundindo a minha cabeça, falei tentando acabar o assunto.

- Você está fugindo da resposta, me criticou.

- Mas a gente mal se conhece...

- E eu já estou apaixonado por você.

Eu e minha capacidade de ficar sem graça, com vontade de correr quando as pessoas falam o que eu não quero e não posso ouvir.

- Tenho que entrar, depois conversamos, eu disse quase sussurrando.

- Antes de você ir, me diga. Seu coração, já que está vazio, quer ser ocupado?.

Respondi como eu nunca imaginei ter coragem de falar, pois tenho uma necessidade idiota de agradar as pessoas e tentar dar a elas o que elas querem. Mas, depois de alguns tropeços comecei a pensar mais em mim e decidi me colocar na frente de tudo dessa vez:

- Ainda não, me desculpe. Abri a porta e ameacei descer do carro.

- Ei, espera, pediu.

Me voltei, recebi um beijo na testa e um desejo de boa sorte. Agradeci, desci do carro e caminhei em direção ao apartamento, mais leve do que nunca, com o sentimento que fiz a coisa certa, agi corretamente com ele e, principalmente, comigo. Se ficasse, cometeria os mesmos erros passados, e isso eu não quero mais.


Se a gente soubesse...

Depois de duas semanas de correria intensa, enfim eu consegui parar para escrever um texto. Tinha tempo que eu não corria tanto, não dormia tão pouco. Foi muito trabalho, mas o reconhecimento foi muito gratificante. Ser recém formada é isso mesmo. Trabalhar muito, se divertir pouco e, em alguns casos, ganhar menos ainda, rs. Assim, aos poucos, vou conseguir o meu lugar ao sol. 

Em outra oportunidade falarei sobre isso, porque hoje quero mesmo falar da raiva que sinto quando um a amiga vai embora. Não desmerecendo aquelas que moram perto de mim, parece que as melhores pessoas sempre vão embora. Fico com muita raiva. Gosto das minhas amigas próximas de mim, gosto de sair, de ligar, de conversar PESSOALMENTE, e mais ainda, de saber que terei colo quando precisar. Se eu soubesse a falta que uma amiga faz quando vai embora, aproveitava ela todos os dias. Mas, a correria, a busca do lugar ao sol não deixa. Infelizmente, temos que conviver com a distância, sendo salvas pelo contato virtual e pelo TIM BETA, rs.

Conquistar uma amiga é uma coisa tão rara, tão cara. Quando a gente conquista, dá uma vontade de ficar grudada o tempo todo, aproveitando, sugando tudo que ela tem a te oferecer. Aprendo diariamente com cada amiga que tenho, com cada loucura, deslize, conselho. E isso me faz tão bem, tão feliz. Saber que, independente de tudo, tenho OS MEUS. Terei amparo e carinho independente do que eu faça e do que os outros pensem.

Acordei agradecida e nostálgica hoje, rs. Uma vontade de abraçar minhas amigas fofas, de conversar até não aguentar mais, de beijar, de sorrir, de mostrar a todas o quanto sou feliz por tê-las comigo e que, independente da distância estaremos sempre juntas, unidas por um laço bonito e forte, o laço da amizade.


domingo, 4 de setembro de 2011

O OUTRO LADO DE UM SONHO


Viver em uma cidade pacata, com pequenos indícios de modernidade, pode ser um sonho pra pessoas acostumadas a congestionamentos, arranha-céus, violência e prostituição. Porém, há quem não pense assim e deseje sair dessa monotonia o mais rápido possível.

João Alberto caminha em direção ao Rio Paraguassu. No caminho fala com alguns transeuntes, sem dar-lhes muita atenção. Sua cabeça é um rodamoinho de pensamentos, dentre os quais, a briga que tivera com Maria Rita na noite anterior se destaca.

-Não, não poderei permanecer aqui. Isso não é vida. Quero mais, mais...

As palavras daquela jovem morena de 16 anos, cabelos delicadamente trançados e a curiosidade de uma sonhadora, feriam o coração de João Alberto. Para ele, viver em Cachoeira era a melhor coisa que lhe acontecera. Vindo de Salvador para estudar na Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), ele se deparou com um mundo novo, algo que ele jamais pensava existir. Quando comenta sobre a nova experiência com seus amigos do Rio Vermelho é caçoado e deixado de lado:
         
   - Virou Tabarel, eles falavam. Mas, não conseguiam pertubar João, um menino fransino de 18 anos e que, como característica marcante, estava o fato de não se importar com comentários alheios e ir sempre em busca dos seus ideais.

Sentado em frente ao Rio Paraguassu, João vê São Felix do outro lado como uma espécie de miragem. A noite vai caindo e uma mão delicada pousa sobre o ombro de João Alberto. Era Maria Rita que o viu de longe e decidiu ir ao seu encontro:

- Oi João!

- Olá, disse João sem nem ao menos virar o rosto em sua direção.

- João, quero me desc...

-          Não precisa falar nada, nem ficar envergonhada por querer sair dessa cidade, buscar novos horizontes, conquistar o mundo. Só temo por sua sorte, sozinha em Salvador, com todos os perigos que aquela cidade oferece.

-          Mas, mas você disse que lá é maravilhoso, lindo mesmo, de deixar as vista da gente cheia de lágrima.

-          E é. Mas, como toda cidade, Salvador tem seus encantos e desencantos, e uma moça tão linda atrairia muita atenção por lá, e nem sempre seus admiradores serão pessoas boas.

Maria Rita, que estava sentada ao lado de João Alberto, dançava com os dedos e balançava as pernas, revelando sua impaciência. João Alberto que não estava alheio a esses movimentos, perguntou-a de súbito:

-          Há algo que você deseja me falar Maria?

Como se não tivesse escutado, ela levantou e foi caminhando em direção a ponte que dividia Cachoeira de São Felix. Ele a seguia silencioso com pensamentos que, percorriam desde as belas curvas daquela jovem até a prova final que teria no dia seguinte, para qual não estudara o suficiente.

-          João – falou ela exigindo atenção – tem coisas sobre mim que você não sabe, me dá até vergonha de te dizer, mas não  posso esconder mais. Eu não sou o que você pensa. Eu nem mereço que você pense tão bem de mim.

-          Por que fala assim, Maria?

João Alberto foi interrompido por um beijo, que tirou-lhe todo o fôlego. As mãos de Maria
percorriam todo o seu corpo e ele parecia explodir dentro das calças. Percebendo tudo aquilo, Maria o levou até sua casa, há apenas duas ruas dali, perto do prédio sede da UFRB. Entraram, e tamanha era a excitação de João Alberto que ele nem percebeu a presença de outras moças e homens naquela casa velha e mau cheirosa. 

Em um quarto, mais agradável que o restante da casa, Maria Rita o deitou , percorreu todo seu corpo com a boca, vestiu em João Alberto uma camisinha, sentou-se nele e em poucos minutos o fez gozar. Desconcertado, ele sentou na cama e ficou estático, esperando alguma explicação de Maria Rita.

-          Percebe João agora? Não sirvo para você. Vendo meu corpo por dinheiro. O mesmo lugar que agora conversamos e que eu durmo, é o lugar que passam três ou quatro homens por dia, para que eu faça com eles o mesmo que fiz contigo. Tenho que sair de Cachoeira João, não suporto mais os olhares tortos, a indiferença das pessoas e de minha família. Desculpe João, por favor me desculpe.

-          Quanto você cobra Maria?

-          Trinta reais, falou em tom de voz quase imperceptível.

Ele levantou, pagou e saiu sem pronunciar mais uma palavra. Caminhando em direção a República João Alberto falava em tom choroso:

            - Nem um lugar está livre dessas maldades humanas? Pobre menina! Que futuro espera de Salvador, além de duplicar a quantidade de homens na sua cama? O peso da prostituição pesa sobre o seu corpo e sobre a sua alma. Não tenho raiva de você Maria... pobre Maria. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sorria e saiba o que eu sei...



"É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer
É bom olhar pra frente, é bom nunca é igual
Olhar, beijar e ouvir, cantar um novo dia nascendo
É bom e é tão diferente

Eu não vou chorar, você não vai chorar
Você pode entender que eu não vou mais te ver Por enquanto, sorria e saiba o que eu sei eu te amo
É bom se apaixonar, ficar feliz, te ver feliz me faz bem
Foi bom se apaixonar, foi bom, e é bom, e o que será?
Por pensar demais eu preferi não pensar demais
dessa vez..
Foi tão bom e porque será
Eu não vou chorar, você não vai chorar
Ninguém precisa chorar mas eu só posso te dizer
Por enquanto, que nessa linda estória os diabos são anjos"



Ouvindo Nando Reis, mesmo tomando 'regulagem' do chefe, o dia começa lindo. Bem vindo, setembro.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O drama de precisar ser atendido no Clériston Andrade

Realmente só sentimos a fragilidade do Sistema Público de Saúde quando algo acontece conosco ou alguém próximo. Hoje (31) foi comigo. Acordei e segui para o trabalho. Chegando lá, o inusitado aconteceu. Fui picada por um animal não identificado no dedão do meu pé direito. Me desesperei ao ver o tamanho do animal, que se debatia no chão. Provavelmente eu pisei nele e a reação foi imediata: ele me atacou.

Apesar de ter plano de assistência à saúde, segui para o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), pois fui informada que lá possui um setor especifico para tratar pacientes com picadas de animais peçonhentos e, por desconhecer o que tinha me atingido, tomei a decisão correta de ir direto para o Clériston.

Chegando lá, os problemas começaram. Apenas uma atendente atendia na emergência, que não estava cheia. Cinco pessoas aguardavam a atendente, pacientemente, preencher os formulários. Fiz a ficha e segui para o interior do hospital. Isso aconteceu por volta das 6h20 da manhã. Entrei no corredor principal e me assustei com a quantidade de macas aglomeradas pelos cantos. Contei 12.

Pacientes com diversos tipos de doenças, recebendo o atendimento ali mesmo, no corredor. Segui para a sala de medicação e fui informada pela enfermeira de plantão que o médico chegaria em instantes. Ela pediu que eu aguardasse o atendimento sentada em algum banco do corredor.

O aspecto do hospital não é dos melhores. Não pude deixar de registrar dois cobertores jogados num canto de parede e as más condições em que se encontram as macas e os equipamentos em geral. O cheiro nada lembra o de éter a que estamos acostumados sentir em hospitais. Não sei bem definir o odor que exala do Clériston, mas não é agradável ao olfato. Permaneci em pé, aguardando o médico, pois os bancos estavam ocupados por parentes e acompanhantes.

Encosto numa parede e começo a observar o movimento dos corredores. Cheguei no momento da troca de turno e percebi que, independente do substituto chegar ou não, quando dá o horário, o cartão é batido e o posto fica imediatamente vazio. São os acompanhantes que ajudam os pacientes a trocar de roupa. Ali mesmo, no corredor. Com o auxílio apenas de uma espécie de provador móvel, daqueles que a gente encontra em loja de roupas. Fiquei constrangida em vê-los despidos. O mesmo banheiro é compartilhado por homens e mulheres, doentes ou não. E fica dentro da sala de medicação, em frente ao consultório do médico, que ainda não tinha chegado.

Perguntei a um funcionário que passava pelo corredor:

- Cadê o médico? A resposta foi imediata: “Está tomando café”.

Respeitei, pois entendo que o plantão dura a noite toda e o médico também tem o direito de se alimentar. Mas, já passaram 30 minutos e eu ali, em pé, aguardando o atendimento.

E a minha dor? Meu pé doía, estava dormente. Mas, ela ficou pequena diante de uma senhora que chegou gemendo em uma cadeira de rodas. Ela também ficou aguardando o médico.

Perguntei a enfermeira:

- Onde está o médico?

- Está vindo, ela respondeu.

Ouvi essa frase 6 vezes, pois impaciente, fiz a mesma pergunta a funcionários diferentes. 7h40 o médico chegou e logo foi abordado pelos acompanhantes dos doentes. Esperei as pessoas saírem e perguntei se seria atendida logo, pois cheguei primeiro.

Ele me disse que a senhora da cadeira de rodas deveria ser atendida primeiro e eu me senti egoísta por não ter compreendido que ela precisava mais dele do que eu. Aguardei na porta do consultório e vi o momento que ela lutava, sem sucesso, para levantar da cadeira de rodas.

O médico sentou atrás da mesa e permaneceu imóvel observando a luta da senhora e de sua acompanhante (com aparentemente 50 anos) para colocá-la na maca, que estava sem lençol. Meus olhos não acreditaram quando viram a senhora subir na cadeira de rodas para alcançar a maca, pois a escada não estava presente. Enfim, depois de um tempo, ela conseguiu.

O médico fez o atendimento em menos de 15 minutos e logo me chamou. Entrei e permaneci em pé. Sinceramente, não queria sentar naquela cadeira suja e com o forro furado. Mas, ele pediu que eu me sentasse. Ele me perguntou do animal e eu o informei que não conseguimos capturá-lo. Ele disse que, aparentemente, não era nada e eu acreditei. A essa altura, se fosse um animal peçonhento, eu já teria apresentado sintomas de febre, tonturas, o que não aconteceu.

Ele afirmou que eu não tinha necessidade de tomar antídoto, me passou um analgésico, e recomendou que eu permanecesse um tempo em observação. Peguei a receita e segui para a sala de medicação. Em um canto, um homem deitado numa poltrona antiga recebia soro. A única maca presente estava ocupada pela senhora da cadeira de rodas. Sobraram dois bancos, para eu e mais três pessoas. Entreguei minha receita para a enfermeira e aguardei.

Enquanto aguardava o remédio comecei a pensar no quanto sou sortuda por possuir um plano de saúde e não precisar passar por uma situação dessas sempre. É humilhante. Os funcionários, enfermeiros e até os médicos mal olham no nosso rosto. Lembro de uma enfermeira ter dito para sua substituta na troca de turno:

- Tá tudo certo, nada de anormal.

Fiquei paralisada com a informação. Como tudo certo? Só posso ter perdido o conceito de certo e errado, pois não considero certo, nem humano, uma pessoa ficar horas em um corredor aguardando atendimento. É um direito que assiste o cidadão, não é um pedido. Só tinha uma enfermeira atendendo, eu não aguardei a medicação. Não esperei a ficha. Saí do hospital o mais rápido que pude e voltei para o trabalho em prantos. 

Chorei por mim, por medo de ter alguma reação à picada. E chorei muito mais pelas pessoas que passam por isso todos os dias.  Me senti impotente, pois fazer esse relato, no momento, é a única forma de mostrar a minha indignação com os serviços de saúde que são oferecidos ao cidadão.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Ressaca


Domingo eu acordei com um péssimo humor. Não tive vontade nenhuma de levantar da cama. O cansaço e a dor de cabeça denunciam: estou de ressaca. Os pés estão sujos (nem banho tomei), os olhos borrados, a boca seca, o cabelo com cheiro de cerveja. É, a noite foi boa. Ou não. Começo a me lembrar de alguns fatos. Era para ser apenas mais uma saída com as amigas. 
Fomos para uma casa de shows famosa na cidade pela mistura de estilos. Você pode dançar arrocha, forró, rock, samba, tudo na mesma noite. Eu, particularmente, não gosto de lugares assim. Fico nervosa com mistura de ritmos. Por exemplo, quero sair para dançar forró e dançar forró a noite inteira. Mas, o lugar é bem frequentado e, onde eu vivo, isso é raro.

Estava deprimida porque perdi o emprego, meu cabelo estava desarrumado e minha unha por fazer. Não adianta. Mulher sabe o estrago desses fatores na nossa auto estima.  Não tem roupa que fique bem. Nada te anima. 

Fiquei quieta num canto, tomando todos os drinks que apareciam na minha frente. Comecei com cerveja, passei para o Whisky, migrei para a Vodka e daí não me lembro mais. Sei que estava mudando mais de bebida que o DJ de música.

A vergonha passou, o cabelo era o mais lindo do ambiente, a unha estava reluzente. Os passinhos estranhos começaram a aparecer. Só um bêbado sabe como é dançar como se ninguém estivesse olhando. Só um bêbado sabe que, depois da sensação de liberdade, vem a vergonha. 

Nesse momento, abro a cortina do quarto e o sol arde meus olhos. Flashs começam a surgir na minha cabeça. Danças até o chão, risadas exageradas, paqueras fora do padrão. O ruim não é beber. É o que você faz enquanto está sob o efeito do álcool. Coisas que os outros alcoolizados acham lindo e, os sãos, repudiam. E os beberrões atuais ainda lidam com outro problema: tudo que você faz é fotografado, filmado, gravado. E você pode ser pego desprevenido.

Imagine a cena. No momento que você está beijando o paquera, três meninas se fotografam na sua frente. O que acontece? Seu beijo estará estampado em orkut’s, facebook’s e afins. E ainda tem o famoso: “Não tira foto. Estou aqui escondida(o)”.

Levantei da cama, as pernas tremendo, o quarto girando. Abro a porta e vou direto para o banheiro. O vazo é convidativo. Vomito tudo o que meu estômago guardava. Quando penso que nada pior pode acontecer, minha mãe sai do quarto dela e pergunta: 

- Cadê o meu sapato?

Eu saí com o xodó de minha mãe, o sapato que ela mais ama. Recebi todas as recomendações possíveis e, estava fazendo tudo certinho no começo. Imediatamente sigo para o quarto e só encontro um par. Tento conter meu desespero.  

- Devo ter esquecido no carro de meu amigo. 

- Ah, ligue para ele e pergunte.

Ligo para minha amiga primeiro.

- Amiga, quem trouxe a gente para casa?

- Foi Leandro.

Ligo para Leandro e pergunto se ficou um pé de sapato preto feminino no carro dele. A resposta foi negativa. O detalhe é que as dores passaram, o corpo já estava ativo. Talvez pelo desespero de ter que pagar outro sapato para minha mãe e ela nunca mais me emprestar nada.

Começo então uma busca insana pelo par de sapato perdido. Ligo para todas as amigas que estavam comigo e, no meio, da confusão, sinto uma coisa estranha na minha bundinha (não gosto da palavra bunda). Quando olho no espelho, um arranhão enorme. Não sei de onde ele veio, mas ignoro e continuo a procurar o sapato.

Minto para minha mãe e digo que o sapato está a salvo no carro de Leandro. Vou tomar banho, lavar a cabeça. O corpo está tão desidratado que, até a água que cai do chuveiro dá vontade de beber.

Saio do banho, vou para a cozinha, pego um pão, uma xícara de café preto e sigo para o quarto. No corredor, aparece minha mãe com os dois pares de sapato na mão.

Não sei se fico feliz, triste ou desesperada. Estou aliviada, mas não sei como o sapato foi parar lá em casa.
Fico indignada com ela:

- Tava mentindo para mim, foi? Onde estava o sapato? 

E ela mais irônica que o filme "Ironias do amor", responde:

- Pois bem, Cinderela. O sapato estava na janela do playground. Segundo sua amiga, você esqueceu a chave, pulou a janela e deixou um pé de sapato cair. Ela veio trazer o sapato aqui logo cedo.

Dito isso, ela caiu na gargalhada. Fiquei morta de vergonha e entendi o machucado na bundinha. Prometi parar de beber pela enésima vez e voltei para dormir, que o domingo era longo e meu corpo precisava se recuperar da noite anterior.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

A palavra-chave do momento é incoerência?

Sabe aqueles dias em que a gente tem a impressão que quer fazer uma coisa, mas as nossas atitudes apontam para caminhos contrários? Ou quando a gente diz que vai fazer uma coisa, mas faz do avesso? Pois é, este é o período, mas não tende a ser algo particularmente ruim, basta ter consciência da tendência para saber controlar-se melhor. Ao perceber sua própria tendência contraditória maior que o normal neste momento, você poderá domá-la, disciplinando-se devidamente. Então, pense: até que ponto você não está agindo com muita dureza em relação aos seus próprios defeitos?
Morro de medo de horóscopo. Mesmo sabendo que outras milhares de pessoas podem ler a mesma coisa. Sempre que leio meu horóscopo, fico tensa. Tem épocas que eu acredito muito no poder do signo. By the way, sou câncer. (O dramática fica por sua conta, rs.) Outro dia falo sobre minha personalidade e como ela combina com a descrição do signo de câncer. Mas, agora que falar especificamente do que diz meu horóscopo hoje.

Coincidência ou não, eu estava pensando exatamente isso ontem a tarde, enquanto assistia o DVD de Vanessa da Mata. Isso antes de ser interrompida bruscamente por uma ligação de minha mãe, me informando que uma mulher foi encontrada morta próximo a minha casa. Resultado: deixei meus devaneios de lado e fui trabalhar.

Retornei o pensamento na hora de dormir. Daí, hoje li isso no horóscopo e me apeguei a essa palavra: contradição.

Quantas vezes eu digo que não vou fazer uma coisa e termino me deixando levar pelos acontecimentos. Ontem eu disse que não iria sair de casa nem com um decreto. Uma amiga chegou, insistiu e eu terminei indo pro shopping com ela. Isso parece besteira, né? Mas, não é. Assim como eu não controlei isso, outras tantas coisas que eu quero fazer, são postas de lado, por uma simples contradição entre pensamento e ação.

Saí com minha amiga. Era para passar apenas uma hora fora de casa. Ela perdeu a chave do carro (pois é), tivemos que esperar a reserva. Depois fomos comer. Resultado: cheguei em casa tarde e tudo que eu tinha programado foi desfeito. Meu quarto continua desarrumado, meu livro continua sem ler e eu continuo sem pensar direito na vida.

Gente, tem coisa melhor que deitar na cama e ficar pensando na vida? Ainn, eu adoro. Chego a conclusões, resolvo conflitos internos. Quem não pratica, eu aconselho. Converse com seus botões, é muito bom. As vezes, eu piro demais, tento mentir para mim mesmo, mas faz parte do processo de autoconhecimento, rs.

Então, pense: até que ponto você não está agindo com muita dureza em relação aos seus próprios defeitos?
Essa frase pode parecer meio solta, mas dentro do contexto que estava escrita, me fez pensar muito e esclarecer alguns pontos obscuros nesse meu novo caminhar. Mesmo sabendo que as pessoas, todas elas, são repletas de defeitos, os nossos são os que menos toleramos. Como é ruim errar, einh? A sensação de fazer algo de errado, de ruim, fere, machuca, dói de uma maneira inexplicável. E, então, ficamos ali, nos punindo, nos torturando. E o erro sai corroendo tudo, tomando conta dos nossos pensamentos. É nessa hora que você tem que parar e pensar: Pára de loucura, gata, rs.


Errou? Conserte. E pare de ficar se punindo apenas, sem tomar nenhuma atitude para consertar o erro.

Mas, antes de tudo, temos que ser senhoras de nós mesmas. Mandar no nosso coração, nas nossas emoções e nas nossas ações. "Ai eu não resisti", não engana mais ninguém. Se quiser resistir, resiste. Se quiser não vai no shopping com a amiga. Se quiser, não faz a ligação indevida.

Com esforço, dedicação e muiiito amor próprio poderemos, alinhar os nossos pensamentos e ações, buscando sempre o melhor, cuidando da nossa morada, cuidando do nosso coração.

Uma amiga me disse "Não há lugar melhor para viver do que em nós mesmos. Cuide da sua morada". Então gente, vamos cuidar da gente, que assim estaremos cuidando do mundo.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Beijo suado

“Eu não acredito que ele veio.” É o que eu penso quando vejo o celular vibrar insistentemente. Corro pro espelho do banheiro, arrumo o cabelo, conserto a blusa. Pronto, agora estou pronta. Subo apressadamente as escadas do prédio e quando chego no playground paro, esperando que ele venha até mim conversar algo.

- Oi. Tudo bem? Ele disse.

Beijo de um lado do rosto, beijo do outro. Será que ele tá percebendo que eu estou morrendo de vergonha? Ai Meu Deus, porque estou tremendo tanto? A gente já se encontrou, não rolou nada, mas já nos falamos pessoalmente várias vezes.

- Tudo bem e você? Como foi a aula hoje? Nossa a minha aula hoje foi super estressante, não sei até quando vou aguentar isso não viu? É muito complicado. Estou ansiosa com os vestibulares que vêem por ai. Falei para você que passei...

Meu Deus, porque eu não paro de conversar? Ai esse menino vai me achar uma tagarela, e eu não consigo parar. Por que eu não deixo ele responder o que perguntei? E ele fica ai com essa paciência toda, ninguém merece. É porque é começo, bem que minha mãe diz, as pessoas só suportam minha “tagarelisse” um tempo, depois me mandam calar a boca. Acho que ele está louco para me mandar calar a boca. Cala a boca Roberta!!

- Sabia que seus brincos são lindos? Acho bem legal esses furos em sua orelha.

O que? Eu aqui discursando sobre literatura, pânico com a chegada do vestibular e meus brincos são lindos? Ai meu Deus, me beija, me beija. Já tá tarde e ele só acha esse brinco bonito porque tá de noite e não dá pra ver o brinco todo mareado e os rasgos na minha orelha. Como vou aparecer para ele de dia? Nunca!! Agora a gente só fica a noite.

- Obrigada.

E me aproximo mais dele, ele de mim, e a gente começa a se beijar. E os beijos ficam mais intensos. Ai...ele faz um carinho gostoso nas minhas costas. Ainda bem que ele não é ousado. Não quer ir logo pegando na minha bunda, nem no meu peito. Esse é respeitador. Gostei muito viu? Nossa e beija bemmm... e porque eu não consigo para de pensar e simplesmente beijo. Ai meu Deus, nem eu me agüento, vou me concentrar agora no beijo.

- Roberta!!! Entre agora. Isso não é hora de você ficar no meio da rua!!

- Mãe...

Não acredito que minha mãe se deu ao trabalho de sair da cama pra estragar meu beijo. Olha pra cara, tonta de sono, usando minha pantufa nesse chão imundo, toda enrolada numa coberta. Eu não mereço essa visão meu Deus. Pela cara dela, a coisa vai ficar feia quando eu entrar em casa.

- Espera cinco minutos...

- Estou esperando.

O que ela tá fazendo parada na porta? Pelo visto esperando. Porque ela não entra? Que vergonha meu Deus. O que ele vai achar? Que sou uma criança. E no meio da rua? Quem disse que playground é meio da rua? Eu quero beijar, ai que ódio de minha mãe, que vontade de morar sozinha. Acho melhor eu entrar. Esse menino também não pára de rir.

- Tenho que entrar. Xau.

Nem um beijo. Nada. Nem esperei ele me dar boa noite. Passei pela porta do prédio igual um foguete, e minha mãe vem atrás arrastando a pantufa calmamente. Como pode? Depois de estragar meu beijo, minha noite. Também não vou mais falar com ela, nunca mais. Entro no quarto e tranco a porta. Pronto.

- Abra a porta Mel pra gente conversar.

Mel, ainda me chama de Mel. Mel uma porra. Mel é só quando estamos bem e agora estamos mal. Muito mal.

- Oi. O que é?

- Minha filha eu faço isso pro seu bem. O que ele vai pensar de você no meio da rua, uma hora dessas. Não fica bem, mande ele entrar aqui em casa na próxima vez. E beijando ele na frente de todo mundo. Não fica bem Mel, você terminou um namoro tem pouco tempo, tem que esperar um tempinho.

- Tá mãe, boa noite. Xau. E devolva minha pantufa.

Aiiiiiiiiiii, porque ela me faz sentir isso? Porque não simplesmente falou que era pra gente entrar? Terminei um namoro tem quase 5 meses, tenho que ter resguardo é? E beijando na frente de quem? Dela que fica olhando a vida alheia, isso sim. Devo ligar pra ele? Ou espero amanhã? Acho melhor nunca mais falar com ele. Vergonha da porra... quem será uma hora dessas? Pera. Esse aqui não é meu celular.

- Alô?

- Roberta. Sou eu, esqueci meu celular na sua mão. Posso ir pegar? Agora vê se tua mãe já dormiu está bem?

- Pode vim. Fico no play esperando.
Bendita tecnologia. Bendito celular. Agora sim, vou me concentrar no meu beijo. Tomara que minha mãe não apareça. Tomara que ela durma com os anjos. Onde já se viu, ao invés de dormir, fica inspecionando a vida dos outros. Sou filha pow, não propriedade. Ai que beijo bom!!


(Texto feito em 12 de maio de 2008. A história é real, com algumas adaptações)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Meros devaneios tolos


Andei pensando nas relações atuais, em que nós transformamos as nossas relações. Digo nós, porque já vivi várias partes de uma mesma história.

É incrível o quanto a gente vive em função da internet. Eu não sabia isso até ter um choque de realidade e, perceber, o quanto eu me deixava manipular, influenciar por ela. Daí, ela passou de um objeto de trabalho para uma obsessão, uma segunda vida, e, em algumas vezes, tomou o primeiro lugar em tudo.

Fiz um flash back e percebi o quanto minha vida mudou com a internet. No começo era o mirc, nunca esqueço o Betynha_FSA (rs), depois veio o MSN e meu primeiro nick tinha tanto caractere que hoje eu nem sei pronunciar, rs. Tirando a parte dos nicks, o que quero dizer é que mudanças significativas aconteceram quando a internet passou a fazer parte dos meus dias. Perdi as contas de quantos sábados eu deixei de sair para ficar online, quantas pessoas eu conheci virtualmente e nunca saíram dessa esfera, e tantas outras que eu conheci e tenho amizade até hoje.

Quantas vezes conversei sobre coisas que jamais teria coragem de falar pessoalmente? Quantas e quantas vezes, já disse eu te amo da boca pra fora, escrevi rsrsrs, sem dá um pingo de risada, achando a pessoa a maior chata? Quantas vezes compartilhei coisas pessoais, só porque precisava desabafar e a tela do computador me parecia mais acolhedora do que minha mãe ou minha irmã, que estavam no quarto ao lado?

Perdi as contas...

Perdi as contas de quantas conversas virtuais serão levadas para sempre, pois ultrapassaram a tela e, no momento, valeram mais do que algumas que tive pessoalmente. Perdi as contas de quantas besteiras, sounds, músicas, declarações e promessas, eu compartilhei na internet.

É incrível como você não tem controle pelo que fala ou diz no mundo virtual. Como você pode ser mal interpretada por quem não sabe o contexto de determinada afirmação. Um “tá bom” sem o smile =) já é sinal de que você está chateado. A internet é uma faca de dois gumes, afasta e aproxima ao mesmo tempo.

Mas, o ponto é: a internet virou uma arma de guerra? A mensagem do MSN poderia ser: digite aqui sua indireta pessoal. O facebook, o orkut e o twitter viraram verdadeiras armas de combate. Tá todo mundo feliz, bonito, cheio de amigos e poesias. Não basta fazer, tem que mostrar, fotografar e compartilhar tudo, para todos. 

Não me isento, já fiz muito isso, continuo fazendo. Embora esteja me ponderando mais, me desintoxicando dessa “coisa” que, quando mal usada, é muito nociva para a nossa saúde mental e física.

Se você termina um relacionamento, tudo que posta soa como indireta para o ex. Se brigou com a amiga, para de curtir os status dela, ou então, deleta da sua lista de amigos. É incrível o poder que tem o “deletar” na nossa vida. “Aí amiga, deletei ele do MSN, do orkut, do face, de tudo, não quero mais”. O incrível é, que, deletar do coração, demora muito mais do que uma atualização de página.

Enfim, só precisava expor um pouco do que sinto hoje em relação a internet. O quanto ela me ajuda profissionalmente e pessoalmente. Mas também me prejudica (e já me prejudicou muito).

Como demorei em deixar de jogar buraco online e cityville, rs. Atrasando meus trabalhos e perdendo o sono. Dá raiva só de lembrar...rs

Vamos aproveitar a internet e suas maravilhas, mas não vamos deixar de ser quem somos, porque virtualmente nos achamos mais legais, mais descolados...

Porque pessoalmente, diariamente, quando estamos nos piores dias...

Um “Curtir” não substitui um abraço, um beijo amoroso...

Vamos ser reais (digo isso para mim todo dia)




E SE NÃO FOSSE COLBERT?


Diante da prisão do ex-deputado federal Colbert Martins da Silva Filho e da defesa total de quase toda a comunidade feirense (leia-se, jornalistas, empresários e políticos), alguns fatos me chamaram a atenção, como o questionamento da ação da Polícia Federal (PF).

Até o momento, no ano de 2011, a PF fez 141 operações em todo o Brasil, totalizando 923 prisões, sendo 137 de funcionários públicos e 4 de policiais federais. Na Bahia, foram 7 operações. As operações Radar e Susto, em Ilhéus, com quatro presos. A operação Monte Pascoal em Salvador, Serrote e Caroá II, em Juazeiro, com quatro presos, além das operações Cerco Fechado, com 21 presos e Bancarrota, com 15 presos. A operação Bancarrota expediu mandatos de prisão preventiva em Feira de Santana e São Gonçalo dos Campos. Em todas as operações, ela utiliza o mesmo padrão de abordagem.

Sobre as algemas: é fato que a utilização das algemas, em alguns casos, é necessária, mas não pode ser feita de forma indiscriminada e sem critério. O Plenário do Superior Tribunal Federal (STF) aprovou em 2008, a 11ª Súmula Vinculante, consolidando jurisprudência da Corte, prevendo a aplicação de penalidades se houver abuso físico e moral do preso. Leia a íntegra do texto:

Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. 

O que acontece é que esse caso só causa discussões quando nomes importantes do cenário político nacional são presos. É preciso que se tenha uma regulamentação específica, para extinguir as interpretações tendenciosas sobre o tema. Enquanto isso não acontece, ora as algemas são vistas como fundamentais e, em outros momentos, ela é vista como símbolo de repressão, dependendo de quem foi preso.

Voltando a falar de Colbert, sua prisão contradiz todo o seu histórico político. Filho de Colbert Martins, tradicional político de Feira de Santana, ele foi deputado estadual em 1990, três vezes deputado federal e assumiu o cargo de secretário Nacional de Turismo em maio de 2011. É médico e professor licenciado da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Colbert nunca esteve envolvido em polêmicas políticas, trabalhando, especialmente, para o município de Feira de Santana, como no Projeto que cria a Região Metropolitana.

Tomando nota desses fatos, vamos falar de jornalismo. Um fato deve ser repensado. Perdoem-me os que conhecem e acreditam em Colbert. Eu também acredito. Mas a condução do fato por alguns veículos de comunicação de Feira fere um principio básico do jornalismo: a imparcialidade.

Acreditar na inocência de Colbert é natural, diante da sua história política e das lutas em prol de Feira. Mas não posso me isentar do direito de dizer que alguns jornalistas perderam a “mão” nos comentários sobre o caso.

Questões e crenças pessoais feriram o princípio de ética do jornalismo. Além de “cegar” alguns para a realidade dos fatos. Assim como Colbert, outras 36 pessoas foram presas, esperando o esclarecimento das denúncias para retornarem às suas vidas. Muitos pais, mães e cidades inteiras podem estar chorando e defendendo a inocência dos seus conterrâneos, tal qual Feira de Santana.

Quantos pais e mães choram vendo as fotos de seus filhos inocentes (ou não), estampados nas capas dos nossos sites e jornais. Fotos que revelam suas fraquezas, sua dor. Fotos de pessoas sangrando, mortas, presas. Por que dói menos quando não conhecemos o personagem da notícia? Pois é. Colbert é personagem de uma notícia triste sobre a corrupção no nosso país. Há poucos dias, o foco não era o Ministério do Turismo, mas o Ministério dos Transportes e o Ministério da Agricultura. Quantos “Colbert’s” (me perdoem a escrita) podem estar no meio desses escândalos? Quantos, aparentemente, entraram de “gaiatos” no navio da corrupção e até hoje não tiveram a chance de provar a sua inocência?

Será que se fosse outro político da nossa cidade, na mesma situação, os comentários seriam esses? Ou, por ter um temperamento mais intempestivo, algum escândalo na sua carreira, seria acusado e apontado como ladrão? O fato é: Colbert foi detido para prestar esclarecimentos. Com a situação resolvida, ele irá explicar à sociedade o que aconteceu e é certo que, se ele for inocente, esse fato não manchará sua carreira. Mas não se pode criticar quem, independente de preferências pessoais, preza pelo bom jornalismo, apura os fatos e os divulga de maneira imparcial, contribuindo para a criação do senso crítico da sociedade. Pois nós somos comunicadores e temos, acima do compromisso com Colbert, o compromisso com a sociedade, que acredita e dá credibilidade ao nosso trabalho.