"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Contidamente, continuamos

O nome do blog foi extraído do texto "Vai passar" de Caio F. Abreu. É um dos textos mais bonitos e sinceros que eu já li. Não sei se é porque ele me ajudou num momento difícil e, até hoje, sempre que alguma coisa não sai da maneira que eu quero e, em momentos, bate um desespero, uma vontade de chorar, uma decepção com as pessoas, eu leio novamente (e novamente, novamente) e lembro que, independente do que me aconteça, vai passar.

Leia:

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez".

Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor. Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência".

E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.

Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam.

Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.

Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:

- ... mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca ...



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A solidão que nos protege

Na revista Veja desta semana tem uma reportagem sobre os estudos do psicólogo americano John Cacioppo, em que ele fala sobre solidão. Segundo ele, a sensação de isolamento tem efeitos semelhantes a fome e a dor. Ele defende também a idéia de que não é preciso casar para ser feliz e que as redes sociais como o facebook, são boas desde que não substituam as interações na vida real. Cacioppo explica que a solidão tem um forte componente genético. Por isso, algumas pessoas precisam de menos companhia do que outras.

EVOLUÇÃO – A solidão não é apenas isolamento físico. Muitas pessoas podem estar casadas, com filhos e ainda assim estar sós. É o ditado “estar só no meio da multidão”. Caracterizada pela sensação de vazio, a solidão nos motiva a mudar, procurar companhia. Foi por causa da solidão que os homens procuraram se agregar, pois estar em sociedade é imprescindível para a sobrevivência e a prosperidade.

GENÉTICA – A solidão é 50% hereditária e 50% circunstancial. Num contexto evolutivo, os mais sensíveis ao isolamento são aqueles que não se desgarram facilmente do grupo, fazendo tudo para mantê-lo unido. Os menos sensíveis ao isolamento são capazes de explorar novos ambientes. Um não é melhor que o outro, os dois são necessários para a preservação da espécie.

TIMIDEZ – Se você é introvertido não significa que é solitário. Por exemplo, uma pessoa pode se sentir completa com apenas um bom amigo. O que importa é a qualidade das relações.



SER FELIZ SOZINHO – Ser feliz sem compromisso é frustração na certa. Por exemplo, hoje eu decido ser feliz nos próximos seis meses, comprando tudo que sempre quis, fazendo tudo que sempre quis fazer, vou esquecer de prestar atenção nas pessoas. Assim, terei problemas na qualidade das minhas relações. O que faz uma pessoa feliz são as relações que estabelece com as outras, a solidão é a ausência de contatos significativos. Mas, novamente, não é porque sou solteira que sou sozinha, posso ser casada e ser sozinha. O que é pior que ser só, pois só, tenho possibilidades maiores de me relacionar com outras pessoas. Mas, na nossa sociedade, a idéia de felicidade está associada ao casamento, união amorosa.

TEMPO PARA SI – Para manter um bom contato com as pessoas, você precisa se distanciar delas de vez em quando, ou tudo ficará cansativo. As pessoas não trazem apenas coisas boas, elas possuem demandas. É preciso dar um passo pra trás, para alcançar o equilíbrio. Lembrando que ficar só, não é o mesmo que ser solitário.

EGOCENTRISMO – A solidão quando ignorada pode comprometer a capacidade do indivíduo de se relacionar. Igual a fome, se a gente não faz nada, vai chegar um momento que prejudicaremos o nosso organismo e não conseguiremos mais procurar comida. Como defesa, a pessoa se preocupa mais consigo mesma, como forma de proteção. Ele fica tão focada em si que compromete sua capacidade de estabelecer contato com o outro, pois sempre se coloca acima de tudo e todos.

CÁSULO – Solitários crônicos tendem a se retrair e não sabem o porque isso acontece. Eles contribuem para o próprio isolamento. Para isso mudar, é preciso estabelecer contato com outras pessoas, começar a interagir, ajudar as pessoas. É preciso também selecionar os amigos com cuidado. Temos a tendência a supervalorizar os momentos ruins e desvalorizar os bons, isso também contribui para solidão.

REDES SOCIAIS - Tudo depende de que forma você usa as redes sociais. Se são usadas como substituto para a realidade física, elas incrementam a solidão, mas se são complementos da vida real, são benéficas.

MAIS SOBRE O TEMA: AQUI e AQUI

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Já fui Vicky, já fui Cristina e nunca estive em Barcelona

Duas amigas em férias de verão na Espanha se encantado com o mesmo pintor, sem saber que sua ex-esposa, com quem tem uma relação tempestuosa, está prestes a voltar a entrar na imagem. Esse é o resumo do filme Vicky Cristina Barcelona. Mas, não estou aqui para falar sobre ele. Vou falar do que ele representa para mim, rs.

Não sei se ele me ajudou a mudar minha vida, mas, a primeira vez que eu assisti esse filme, pensamentos estranhos começaram a povoar minha cabeça. Parei de me punir por pensar diferente das pessoas com quem me relacionava e aceitei minhas diferenças.

Começando. Quando digo já fui Vicky, me refiro a minha parte prática, conservadora e tradicional. Aquela que colocou o desejo de casar, ter filhos e constituir uma família “normal” acima de tudo. 

Quando descubro a Cristina em mim, falo de uma mulher que não sabe bem o que quer, mas sabe muito bem o que não quer. Ela repete isso inúmeras vezes durante o filme e sempre me identifiquei com essa frase. 

Eu poderia dizer também que sou um pouco Maria Elena, interpretada pela diva Penélope Cruz. Maria Elena vive num mundo sombrio e perturbado, encontrando em Cristina a sintonia perfeita com Juan Antonio, o seu eterno amor. Um amor estranho, que segundo ela (Maria Elena) define, só é romântico porque não pode ser realizado

O que esses personagens tão diferentes possuem em comum? E o que eles possuem em comum comigo? Todos lutam (cada um da sua maneira) pela FELICIDADE.
Como Vicky já busquei a estabilidade como forma de encontrar felicidade. Por um tempo, acreditei ser a forma ideal de viver. Mas, não foi bem assim. A vida foi ficando morna, esfriando e, quando vi, estava gélida. Igual a Cristina, não aceitava a vida de Vicky e resolvi me entregar de vez ao amor. Me joguei de cara, deixei tudo para trás e encarei uma aventura. Tudo é fantasioso no mundo das aventuras. Tudo é maior. O seu amor é maior, seu sofrimento é maior. Você nunca está satisfeita. Isso também me cansou. Mergulhei então no universo da Maria Elena, descobrindo meus medos, buscando em mim formas de sair do vazio e encontrar a felicidade.

Não foi Vicky, nem foi Cristina que me salvou. Tampouco Maria Elena. Foi eu. Acho que estou chegando perto de encontrar o equilíbrio necessário para prosseguir. No mais, recomendo que assistam esse filme. Vale uma reflexão.




*_*

Ela redescobriu o frio na barriga, a vontade de se enfeitar, se perfumar para alguém. Ela descobriu que ser frágil não é um defeito, se encantar não é uma fraqueza.