"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cada vez mais, Pessoa

Desde que ganhei o livro "Citações e Pensamentos - Fernando Pessoa", organizado por Paulo Neves da Silva, não consigo parar de buscar significados para o que leio. O engraçado é que eu leio esse livro como a gente faz com aquele "Minutos de Sabedoria". Abro uma página aleatória e pronto. Começo a ler, como se fosse uma imposição do destino, dizendo: VOCÊ TEM QUE LER ISSO HOJE, VAI FAZER BEM, rs. Viajo em cada texto, poema, frase, citação. Em cada um, busco uma explicação para algo da minha vida.  (tem um "q" de auto ajuda nisso, rs ). Hoje eu li um poema em que Fernando Pessoa usa o heterônimo de Álvaro de Campos. Já tinha lido trechos isolados desse texto, mas não completo. Me identifiquei completamente. A simplicidade com que ele trata um assunto tão complexo como esse "QUEM SOU EU?" é brilhante:


Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.


E o dia nem começou...

Cinco da manhã, começa mais uma terça-feira. No quarto já claro, pois a janela não tem cortinas, a primeira imagem que tenho, são as fotos de parentes e amigos, distribuídas nos dois murais cor-de-rosa que enfeitam a parede amarela. 


O monitor do computador pisca, sinal que esqueci mais uma vez de desligá-lo antes de dormir. Olho pro relógio, olhos cheios de lágrimas, uma vontade enorme de chorar e, na maioria das vezes isso acontece. 


Pareço não acreditar que realmente tenho que levantar. Coloco o celular para despertar dez minutos depois e volto a dormir. Passados os tão rápidos e gostosos dez minutos, levanto


Arrumo a cama branca tubular com o lençol rosa, estampado com bonecas, abro o guarda-roupa simples de quatro portas e desligo o ventilador que, neste momento, já me incomoda. Escolho uma roupa pra ir à faculdade, abro a janela para me acostumar com o tempo e lembro que tenho que colocar uma cortina nela. 


Saia, blusa, sandália, bolsa, acessórios, muitos acessórios. Brincos, pulseiras, relógio, escapulário. Tudo arrumado em cima da cama. Ainda sonolenta, caminho descalça em direção a porta do quarto que dá de frente para o lavabo do banheiro. O espelho acusa. Olhos inchados, cabelos emaranhados, andar de zumbi. Não demoro ao lavar o rosto e parto para a cozinha. Lá encontro minha vó e já escuto a bronca:

- Calça a sandália menina. Vai ficar doente. O café tá na mesa.

Sento à mesa, não me importo com o que ela diz. Não sou muito sociável quando acordo esse horário. Nesse momento já são cinco e trinta. Tomo meu café com pão e manteiga numa xícara que não é a minha preferida. Não bebo leite pela manhã. Como a fruta que tiver na mesa, hoje teve banana e maça. O rádio já está ligado num programa AM que não me recordo o nome. O radialista dá as primeiras notícias do dia e a previsão do tempo. 



Volto pro quarto, pego a saboneteira amarela, a toalha azul e vou pro banho. Por que a água esse horário é tão fria? Visto a roupa, coloco os acessórios, confiro o dinheiro, passo pó compacto pra disfarçar as olheiras, um pouco de blush, carinhosamente chamado de “saúde” e um gloss cor-de-rosa. O cabelo é o que dá mais trabalho para arrumar. “Cabelo, poxa cabelo. Que é isso? Vamos conversar?” Pego o caderno e o classificador, saio do apartamento e vou pra frente do condomínio esperar a van para ir à Cachoeira. São seis e quinze da manhã.
Enquanto espero, converso com o porteiro sobre o tempo. A van chega por volta das seis e trinta. No percurso de Feira de Santana a Cachoeira, converso com meu amigo João Pedro, que ultimamente anda tão ausente, com o motorista Danilo, Ilani e alguns calouros. Mas, durmo a maior parte do percurso, para conseguir disfarçar o cansaço de quem dormiu às três da manhã


Chego em Cachoeira por volta das sete e quarenta, vou direto no bar de Gel, compro um copo descartável por cinco centavos, vou para o prédio do CAHL, bebo água, guardo o copo. No corredor que dá acesso a sala de aula, apago a luz que, desnecessariamente está acesa, entro na sala, sento, retoco a “saúde”, o gloss cor-de-rosa e penso:

“E o dia ainda nem começou!”



Texto publicado em 7 de abril de 2008, uma das épocas mais corridas da minha vida.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Solidão, nunca mais?

Não tenho medo de ficar só, não mais. Tenho medo de não ficar a vontade na minha companhia, de não me sentir feliz ouvindo meus pensamentos, de olhar no espelho e não enxergar quem eu gostaria. Esse sim, é um péssimo sentimento.

Por que é mais fácil ficar a vontade com os outros do que com nós mesmos?
Não entendo porque as pessoas não acreditam quando alguém diz que está feliz só. Deve ser porque, estar só, sempre está associado a coisas ruins, desprezo, falta de amigos. Eu, pelo contrário, considero uma necessidade. Não abro mão dos meus momentos de reclusão, por nada nem ninguém mais, pois acredito que ESTAR SÓ é um passo IMPORTANTE para o crescimento pessoal, para ouvir MEU próprio eu e encontrar as respostas para as perguntas que "martelam" em minha cabeça diariamente. 

Sêneca disse e eu concordo:
"Merecem louvor os homens que em si mesmos encontraram o impulso, e subiram nos seus próprios ombros."

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

“Onde está o meu coração?”

Essa pergunta não sai da minha cabeça desde a segunda vez que ele me perguntou:

- Onde está o seu coração?

Acho que está aqui no meu peito, batendo, graças a Deus, pensei de imediato.

- Você só pensa em você, você não liga para ninguém, você não me dá atenção, você simplesmente não se importa.

Fiquei incrédula, que rapaz sincero. Nunca tinham me dito essas palavras assim, tão claramente. Permaneci imóvel no banco carona do carro, com a mão na maçaneta da porta, pronta para abrir. Queria sair dali o mais rápido possível, sem nem olhar para o lado. Ele confundia a minha cabeça. Afinal, não foi eu que sumi por dias seguidos e apareci como se nada tivesse acontecido.

- Você não vai falar nada?, disse.

- Eu não, falei baixinho.

- Te liguei e você não atendeu, falei no MSN, no face e você não me respondeu. Tive que vir em sua casa, você sai com esses olhos inchados, com essa cara de choro e não tem nada para me dizer?, falou exaltado.

- Você quer realmente saber por que eu estava chorando? Porque não te atendi quando ligou?, falei em um tom severo.

- Sim, preciso. Você desperta coisas estranhas em mim, um magnetismo, uma vontade de te ter perto. Mas, você é tão misteriosa, tão segura de si que eu não sei como agir ao seu lado. Preciso de algumas explicações para saber como lidar com você, disse calmamente.

Fiquei sem graça, mas nesse momento, eu estava mais preocupada em contar as janelas do meu prédio, as árvores do jardim e tentando contar os quadrinhos do playground. Tenho essa mania ridícula, mas consegui prestar atenção no que ele dizia.

- Eu estava chorando, porque abri sem querer um baú de recordações, revi coisas que não estava preparada para ver e chorei. Chorei por mim, pelas pessoas, pela vida. Chorei por tudo e, no auge da minha tristeza você ligou. Não queria te atender, nem te ver. Não só você. Não queria ver ninguém, só me recolher e pensar na vida, buscar soluções para os meus conflitos. E daí você chega aqui, descarrega isso tudo em mim, como se a gente fosse alguma coisa, me cobrando o que eu não posso te dar agora.

- Você estava chorando por outro homem?, falou de imediato.

- Não especificamente, estava chorando por algumas feridas abertas, algumas coisas que eu deixei guardadinhas num canto e, inexplicavelmente, pularam no meu colo num dia que eu não estava preparada para recordá-las. Não sei se você vai entender. Mas, foi isso...

- Então, você gosta de alguém?, perguntou cauteloso.

- Não especificamente, sinto falta de algumas pessoas, mas gostar como você está falando não, falei, ao mesmo tempo que me perguntava se realmente não estava gostando de alguém. A resposta foi negativa.

- Esperava que você dissesse que gosta de mim...

- Eu gosto de você, respondi automaticamente.

- Mas, você disse agora que não está gostando de ninguém, pontuou.

- Você está confundindo a minha cabeça, falei tentando acabar o assunto.

- Você está fugindo da resposta, me criticou.

- Mas a gente mal se conhece...

- E eu já estou apaixonado por você.

Eu e minha capacidade de ficar sem graça, com vontade de correr quando as pessoas falam o que eu não quero e não posso ouvir.

- Tenho que entrar, depois conversamos, eu disse quase sussurrando.

- Antes de você ir, me diga. Seu coração, já que está vazio, quer ser ocupado?.

Respondi como eu nunca imaginei ter coragem de falar, pois tenho uma necessidade idiota de agradar as pessoas e tentar dar a elas o que elas querem. Mas, depois de alguns tropeços comecei a pensar mais em mim e decidi me colocar na frente de tudo dessa vez:

- Ainda não, me desculpe. Abri a porta e ameacei descer do carro.

- Ei, espera, pediu.

Me voltei, recebi um beijo na testa e um desejo de boa sorte. Agradeci, desci do carro e caminhei em direção ao apartamento, mais leve do que nunca, com o sentimento que fiz a coisa certa, agi corretamente com ele e, principalmente, comigo. Se ficasse, cometeria os mesmos erros passados, e isso eu não quero mais.


Se a gente soubesse...

Depois de duas semanas de correria intensa, enfim eu consegui parar para escrever um texto. Tinha tempo que eu não corria tanto, não dormia tão pouco. Foi muito trabalho, mas o reconhecimento foi muito gratificante. Ser recém formada é isso mesmo. Trabalhar muito, se divertir pouco e, em alguns casos, ganhar menos ainda, rs. Assim, aos poucos, vou conseguir o meu lugar ao sol. 

Em outra oportunidade falarei sobre isso, porque hoje quero mesmo falar da raiva que sinto quando um a amiga vai embora. Não desmerecendo aquelas que moram perto de mim, parece que as melhores pessoas sempre vão embora. Fico com muita raiva. Gosto das minhas amigas próximas de mim, gosto de sair, de ligar, de conversar PESSOALMENTE, e mais ainda, de saber que terei colo quando precisar. Se eu soubesse a falta que uma amiga faz quando vai embora, aproveitava ela todos os dias. Mas, a correria, a busca do lugar ao sol não deixa. Infelizmente, temos que conviver com a distância, sendo salvas pelo contato virtual e pelo TIM BETA, rs.

Conquistar uma amiga é uma coisa tão rara, tão cara. Quando a gente conquista, dá uma vontade de ficar grudada o tempo todo, aproveitando, sugando tudo que ela tem a te oferecer. Aprendo diariamente com cada amiga que tenho, com cada loucura, deslize, conselho. E isso me faz tão bem, tão feliz. Saber que, independente de tudo, tenho OS MEUS. Terei amparo e carinho independente do que eu faça e do que os outros pensem.

Acordei agradecida e nostálgica hoje, rs. Uma vontade de abraçar minhas amigas fofas, de conversar até não aguentar mais, de beijar, de sorrir, de mostrar a todas o quanto sou feliz por tê-las comigo e que, independente da distância estaremos sempre juntas, unidas por um laço bonito e forte, o laço da amizade.


domingo, 4 de setembro de 2011

O OUTRO LADO DE UM SONHO


Viver em uma cidade pacata, com pequenos indícios de modernidade, pode ser um sonho pra pessoas acostumadas a congestionamentos, arranha-céus, violência e prostituição. Porém, há quem não pense assim e deseje sair dessa monotonia o mais rápido possível.

João Alberto caminha em direção ao Rio Paraguassu. No caminho fala com alguns transeuntes, sem dar-lhes muita atenção. Sua cabeça é um rodamoinho de pensamentos, dentre os quais, a briga que tivera com Maria Rita na noite anterior se destaca.

-Não, não poderei permanecer aqui. Isso não é vida. Quero mais, mais...

As palavras daquela jovem morena de 16 anos, cabelos delicadamente trançados e a curiosidade de uma sonhadora, feriam o coração de João Alberto. Para ele, viver em Cachoeira era a melhor coisa que lhe acontecera. Vindo de Salvador para estudar na Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), ele se deparou com um mundo novo, algo que ele jamais pensava existir. Quando comenta sobre a nova experiência com seus amigos do Rio Vermelho é caçoado e deixado de lado:
         
   - Virou Tabarel, eles falavam. Mas, não conseguiam pertubar João, um menino fransino de 18 anos e que, como característica marcante, estava o fato de não se importar com comentários alheios e ir sempre em busca dos seus ideais.

Sentado em frente ao Rio Paraguassu, João vê São Felix do outro lado como uma espécie de miragem. A noite vai caindo e uma mão delicada pousa sobre o ombro de João Alberto. Era Maria Rita que o viu de longe e decidiu ir ao seu encontro:

- Oi João!

- Olá, disse João sem nem ao menos virar o rosto em sua direção.

- João, quero me desc...

-          Não precisa falar nada, nem ficar envergonhada por querer sair dessa cidade, buscar novos horizontes, conquistar o mundo. Só temo por sua sorte, sozinha em Salvador, com todos os perigos que aquela cidade oferece.

-          Mas, mas você disse que lá é maravilhoso, lindo mesmo, de deixar as vista da gente cheia de lágrima.

-          E é. Mas, como toda cidade, Salvador tem seus encantos e desencantos, e uma moça tão linda atrairia muita atenção por lá, e nem sempre seus admiradores serão pessoas boas.

Maria Rita, que estava sentada ao lado de João Alberto, dançava com os dedos e balançava as pernas, revelando sua impaciência. João Alberto que não estava alheio a esses movimentos, perguntou-a de súbito:

-          Há algo que você deseja me falar Maria?

Como se não tivesse escutado, ela levantou e foi caminhando em direção a ponte que dividia Cachoeira de São Felix. Ele a seguia silencioso com pensamentos que, percorriam desde as belas curvas daquela jovem até a prova final que teria no dia seguinte, para qual não estudara o suficiente.

-          João – falou ela exigindo atenção – tem coisas sobre mim que você não sabe, me dá até vergonha de te dizer, mas não  posso esconder mais. Eu não sou o que você pensa. Eu nem mereço que você pense tão bem de mim.

-          Por que fala assim, Maria?

João Alberto foi interrompido por um beijo, que tirou-lhe todo o fôlego. As mãos de Maria
percorriam todo o seu corpo e ele parecia explodir dentro das calças. Percebendo tudo aquilo, Maria o levou até sua casa, há apenas duas ruas dali, perto do prédio sede da UFRB. Entraram, e tamanha era a excitação de João Alberto que ele nem percebeu a presença de outras moças e homens naquela casa velha e mau cheirosa. 

Em um quarto, mais agradável que o restante da casa, Maria Rita o deitou , percorreu todo seu corpo com a boca, vestiu em João Alberto uma camisinha, sentou-se nele e em poucos minutos o fez gozar. Desconcertado, ele sentou na cama e ficou estático, esperando alguma explicação de Maria Rita.

-          Percebe João agora? Não sirvo para você. Vendo meu corpo por dinheiro. O mesmo lugar que agora conversamos e que eu durmo, é o lugar que passam três ou quatro homens por dia, para que eu faça com eles o mesmo que fiz contigo. Tenho que sair de Cachoeira João, não suporto mais os olhares tortos, a indiferença das pessoas e de minha família. Desculpe João, por favor me desculpe.

-          Quanto você cobra Maria?

-          Trinta reais, falou em tom de voz quase imperceptível.

Ele levantou, pagou e saiu sem pronunciar mais uma palavra. Caminhando em direção a República João Alberto falava em tom choroso:

            - Nem um lugar está livre dessas maldades humanas? Pobre menina! Que futuro espera de Salvador, além de duplicar a quantidade de homens na sua cama? O peso da prostituição pesa sobre o seu corpo e sobre a sua alma. Não tenho raiva de você Maria... pobre Maria. 

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sorria e saiba o que eu sei...



"É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer
É bom olhar pra frente, é bom nunca é igual
Olhar, beijar e ouvir, cantar um novo dia nascendo
É bom e é tão diferente

Eu não vou chorar, você não vai chorar
Você pode entender que eu não vou mais te ver Por enquanto, sorria e saiba o que eu sei eu te amo
É bom se apaixonar, ficar feliz, te ver feliz me faz bem
Foi bom se apaixonar, foi bom, e é bom, e o que será?
Por pensar demais eu preferi não pensar demais
dessa vez..
Foi tão bom e porque será
Eu não vou chorar, você não vai chorar
Ninguém precisa chorar mas eu só posso te dizer
Por enquanto, que nessa linda estória os diabos são anjos"



Ouvindo Nando Reis, mesmo tomando 'regulagem' do chefe, o dia começa lindo. Bem vindo, setembro.