"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."

domingo, 4 de setembro de 2011

O OUTRO LADO DE UM SONHO


Viver em uma cidade pacata, com pequenos indícios de modernidade, pode ser um sonho pra pessoas acostumadas a congestionamentos, arranha-céus, violência e prostituição. Porém, há quem não pense assim e deseje sair dessa monotonia o mais rápido possível.

João Alberto caminha em direção ao Rio Paraguassu. No caminho fala com alguns transeuntes, sem dar-lhes muita atenção. Sua cabeça é um rodamoinho de pensamentos, dentre os quais, a briga que tivera com Maria Rita na noite anterior se destaca.

-Não, não poderei permanecer aqui. Isso não é vida. Quero mais, mais...

As palavras daquela jovem morena de 16 anos, cabelos delicadamente trançados e a curiosidade de uma sonhadora, feriam o coração de João Alberto. Para ele, viver em Cachoeira era a melhor coisa que lhe acontecera. Vindo de Salvador para estudar na Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), ele se deparou com um mundo novo, algo que ele jamais pensava existir. Quando comenta sobre a nova experiência com seus amigos do Rio Vermelho é caçoado e deixado de lado:
         
   - Virou Tabarel, eles falavam. Mas, não conseguiam pertubar João, um menino fransino de 18 anos e que, como característica marcante, estava o fato de não se importar com comentários alheios e ir sempre em busca dos seus ideais.

Sentado em frente ao Rio Paraguassu, João vê São Felix do outro lado como uma espécie de miragem. A noite vai caindo e uma mão delicada pousa sobre o ombro de João Alberto. Era Maria Rita que o viu de longe e decidiu ir ao seu encontro:

- Oi João!

- Olá, disse João sem nem ao menos virar o rosto em sua direção.

- João, quero me desc...

-          Não precisa falar nada, nem ficar envergonhada por querer sair dessa cidade, buscar novos horizontes, conquistar o mundo. Só temo por sua sorte, sozinha em Salvador, com todos os perigos que aquela cidade oferece.

-          Mas, mas você disse que lá é maravilhoso, lindo mesmo, de deixar as vista da gente cheia de lágrima.

-          E é. Mas, como toda cidade, Salvador tem seus encantos e desencantos, e uma moça tão linda atrairia muita atenção por lá, e nem sempre seus admiradores serão pessoas boas.

Maria Rita, que estava sentada ao lado de João Alberto, dançava com os dedos e balançava as pernas, revelando sua impaciência. João Alberto que não estava alheio a esses movimentos, perguntou-a de súbito:

-          Há algo que você deseja me falar Maria?

Como se não tivesse escutado, ela levantou e foi caminhando em direção a ponte que dividia Cachoeira de São Felix. Ele a seguia silencioso com pensamentos que, percorriam desde as belas curvas daquela jovem até a prova final que teria no dia seguinte, para qual não estudara o suficiente.

-          João – falou ela exigindo atenção – tem coisas sobre mim que você não sabe, me dá até vergonha de te dizer, mas não  posso esconder mais. Eu não sou o que você pensa. Eu nem mereço que você pense tão bem de mim.

-          Por que fala assim, Maria?

João Alberto foi interrompido por um beijo, que tirou-lhe todo o fôlego. As mãos de Maria
percorriam todo o seu corpo e ele parecia explodir dentro das calças. Percebendo tudo aquilo, Maria o levou até sua casa, há apenas duas ruas dali, perto do prédio sede da UFRB. Entraram, e tamanha era a excitação de João Alberto que ele nem percebeu a presença de outras moças e homens naquela casa velha e mau cheirosa. 

Em um quarto, mais agradável que o restante da casa, Maria Rita o deitou , percorreu todo seu corpo com a boca, vestiu em João Alberto uma camisinha, sentou-se nele e em poucos minutos o fez gozar. Desconcertado, ele sentou na cama e ficou estático, esperando alguma explicação de Maria Rita.

-          Percebe João agora? Não sirvo para você. Vendo meu corpo por dinheiro. O mesmo lugar que agora conversamos e que eu durmo, é o lugar que passam três ou quatro homens por dia, para que eu faça com eles o mesmo que fiz contigo. Tenho que sair de Cachoeira João, não suporto mais os olhares tortos, a indiferença das pessoas e de minha família. Desculpe João, por favor me desculpe.

-          Quanto você cobra Maria?

-          Trinta reais, falou em tom de voz quase imperceptível.

Ele levantou, pagou e saiu sem pronunciar mais uma palavra. Caminhando em direção a República João Alberto falava em tom choroso:

            - Nem um lugar está livre dessas maldades humanas? Pobre menina! Que futuro espera de Salvador, além de duplicar a quantidade de homens na sua cama? O peso da prostituição pesa sobre o seu corpo e sobre a sua alma. Não tenho raiva de você Maria... pobre Maria. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário