"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida."

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quanto vale sua vida?

Era o que ela pensava enquanto olhava a agulha enfiada em suas mãos e o soro pingando gota a gota, numa sinfonia desajeitada que a incomodava profundamente. Quanto vale a minha vida? O que estou fazendo aqui? Como cheguei a esse ponto? Sozinha, sem amigos, sem ninguém, ela começou a pensar nos caminhos que a levaram aquela situação. Tudo começou com uma situação mal resolvida que a fez, num impulso, ingerir todos os comprimidos que estavam ao seu alcance. Para que? “Para sentirem pena de mim e me perdoarem mais facilmente”. A troco de que? Vômitos, mal estar e vergonha. Abaixo segue o relato de uma mulher que tentou acabar com a própria vida:

“Não quero ser exemplo de como se deve ou não agir diante de uma situação de desespero. Quero apenas compartilhar minha dor, para que aqueles, que assim como eu, já passaram por uma situação semelhante possam tomar uma atitude diferente da minha e encarar os problemas de frente, com o peito aberto e com a coragem de um verdadeiro guerreiro.
Tentei me matar. Na verdade, não sei se tentei ou se queria apenas minimizar meu erro. Hoje sei que a quantidade de comprimidos não foi suficiente para matar o meu organismo, mas, fez mudanças radicais em minha vida.
Eu não sabia quais os efeitos daqueles remédios sobre o meu corpo e passei a imaginar como morreria. Do mal estar para as fores dores de cabeça e tontura. Da tontura para os vômitos. Tudo isso em uma tarde que quero esquecer. Por isso estou te dando esse depoimento. Para desabafar e tornar o esquecimento mais fácil. Faz sentido? Falar para esquecer? Não sei, mas esconder também não resolveu.
Entenda garota, não tem mal pior do que fazer mal a alguém. A impotência diante do sofrimento alheio causado por você é a pior das dores. Nunca tinha convivido com ela e não soube lidar quando a dor saiu destroçando cada parte do meu corpo, me punindo por ter sido tão fraca e imoral. Não quero entrar em detalhes do que aconteceu, mas quero te dizer e, espero que você passe para a maior quantidade de pessoas que puder que: a gente é muito maior que os nossos erros. Hoje eu sei disso. Depois de ter me encontrado com a morte, a falta de amor próprio, a raiva de mim mesma. Hoje eu sei que a vida é mais do que isso. 
Quando meu corpo não aguentava mais e eu parei de culpar os outros pelos meus erros, caminhei lentamente em direção ao Pronto Socorro mais próximo. As pessoas me olhavam como se soubessem o que eu fiz, um senhor me parou e perguntou se eu estava bem, tamanha era minha palidez. Cheguei ao hospital e aguardei pacientemente o atendimento. Não tive coragem de contar o que aconteceu ao médico, mas, depois de muita insistência eu falei e ele passou uma medicação. Enquanto tomava a medicação, uma frase martelava na minha cabeça: Você é a única culpada por isso tudo.
Peguei no sono com essa frase na mente e, quando acordei, entendi o seu sentido. Eu me coloquei naquela situação, com escolhas erradas, atitudes impensadas, impulsivas e frias. Atitudes de  alguém que vivia em mim e  eu não conhecia, alguém que contrastava com a pessoa alegre, doce e espontânea que eu sou.
E, num momento de fraqueza, num ímpeto de acabar com o sofrimento de todos, tentei me matar. Mentira, isso é um depoimento, não posso mentir, queria mesmo acabar com o meu sofrimento. Por isso não deu certo, até nisso fui egoísta e Deus, num ato magnífico de amor, me fez viver para pagar o que fiz e consertar os meus erros.
Duas horas de observação e, finalmente, pude sair do hospital. A quem ouvir, ler, reescrever esse texto, tenho um pedido a fazer: não descaracterize o meu depoimento. Não sinta pena de mim e não sinta pena de você. Quando eu saí daquele hospital, era outra pessoa. Uma pessoa mais forte, com os pensamentos no lugar. Naquelas horas que passei sozinha, apenas com o olhar de pena da enfermeira pousando sobre mim de vez em quando, pensei no que deveria fazer da minha vida e estou fazendo diariamente um exercício de autoconhecimento.
Saí do hospital com os braços abertos para a vida, para os acertos e, porque não, para os erros também. Todos nós erramos. Compreender isso é o primeiro passo para o nosso amadurecimento. Atitudes infantis como a minha devem ser minimizadas, repudiadas e não seguidas. Devem ser vistas como um ato de desespero de uma pessoa que era fraca e hoje não é mais”.
 
A autora desse depoimento pediu para que sua identidade fosse mantida em segredo. 
 

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