Domingo eu acordei com um péssimo humor. Não tive vontade nenhuma de levantar da cama. O cansaço e a dor de cabeça denunciam: estou de ressaca. Os pés estão sujos (nem banho tomei), os olhos borrados, a boca seca, o cabelo com cheiro de cerveja. É, a noite foi boa. Ou não. Começo a me lembrar de alguns fatos. Era para ser apenas mais uma saída com as amigas.
Fomos para uma casa de shows famosa na cidade pela mistura de estilos. Você pode dançar arrocha, forró, rock, samba, tudo na mesma noite. Eu, particularmente, não gosto de lugares assim. Fico nervosa com mistura de ritmos. Por exemplo, quero sair para dançar forró e dançar forró a noite inteira. Mas, o lugar é bem frequentado e, onde eu vivo, isso é raro.
Estava deprimida porque perdi o emprego, meu cabelo estava desarrumado e minha unha por fazer. Não adianta. Mulher sabe o estrago desses fatores na nossa auto estima. Não tem roupa que fique bem. Nada te anima.
Fiquei quieta num canto, tomando todos os drinks que apareciam na minha frente. Comecei com cerveja, passei para o Whisky, migrei para a Vodka e daí não me lembro mais. Sei que estava mudando mais de bebida que o DJ de música.
A vergonha passou, o cabelo era o mais lindo do ambiente, a unha estava reluzente. Os passinhos estranhos começaram a aparecer. Só um bêbado sabe como é dançar como se ninguém estivesse olhando. Só um bêbado sabe que, depois da sensação de liberdade, vem a vergonha.
Nesse momento, abro a cortina do quarto e o sol arde meus olhos. Flashs começam a surgir na minha cabeça. Danças até o chão, risadas exageradas, paqueras fora do padrão. O ruim não é beber. É o que você faz enquanto está sob o efeito do álcool. Coisas que os outros alcoolizados acham lindo e, os sãos, repudiam. E os beberrões atuais ainda lidam com outro problema: tudo que você faz é fotografado, filmado, gravado. E você pode ser pego desprevenido.
Imagine a cena. No momento que você está beijando o paquera, três meninas se fotografam na sua frente. O que acontece? Seu beijo estará estampado em orkut’s, facebook’s e afins. E ainda tem o famoso: “Não tira foto. Estou aqui escondida(o)”.
Levantei da cama, as pernas tremendo, o quarto girando. Abro a porta e vou direto para o banheiro. O vazo é convidativo.
- Cadê o meu sapato?
Eu saí com o xodó de minha mãe, o sapato que ela mais ama. Recebi todas as recomendações possíveis e, estava fazendo tudo certinho no começo. Imediatamente sigo para o quarto e só encontro um par. Tento conter meu desespero.
- Devo ter esquecido no carro de meu amigo.
- Ah, ligue para ele e pergunte.
Ligo para minha amiga primeiro.
- Amiga, quem trouxe a gente para casa?
- Foi Leandro.
Ligo para Leandro e pergunto se ficou um pé de sapato preto feminino no carro dele. A resposta foi negativa. O detalhe é que as dores passaram, o corpo já estava ativo. Talvez pelo desespero de ter que pagar outro sapato para minha mãe e ela nunca mais me emprestar nada.
Começo então uma busca insana pelo par de sapato perdido. Ligo para todas as amigas que estavam comigo e, no meio, da confusão, sinto uma coisa estranha na minha bundinha (não gosto da palavra bunda). Quando olho no espelho, um arranhão enorme. Não sei de onde ele veio, mas ignoro e continuo a procurar o sapato.
Minto para minha mãe e digo que o sapato está a salvo no carro de Leandro. Vou tomar banho, lavar a cabeça. O corpo está tão desidratado que, até a água que cai do chuveiro dá vontade de beber.
Saio do banho, vou para a cozinha, pego um pão, uma xícara de café preto e sigo para o quarto. No corredor, aparece minha mãe com os dois pares de sapato na mão.
Não sei se fico feliz, triste ou desesperada. Estou aliviada, mas não sei como o sapato foi parar lá em casa.
Fico indignada com ela:
- Tava mentindo para mim, foi? Onde estava o sapato?
E ela mais irônica que o filme "Ironias do amor", responde:
- Pois bem, Cinderela. O sapato estava na janela do playground. Segundo sua amiga, você esqueceu a chave, pulou a janela e deixou um pé de sapato cair. Ela veio trazer o sapato aqui logo cedo.
Dito isso, ela caiu na gargalhada. Fiquei morta de vergonha e entendi o machucado na bundinha. Prometi parar de beber pela enésima vez e voltei para dormir, que o domingo era longo e meu corpo precisava se recuperar da noite anterior.
"O ruim não é beber. É o que você faz enquanto está sob o efeito do álcool." #fato
ResponderExcluirrssss
To te acompanhando viu, Beta!! bjsssssss
Graças a Deus eu nunca fiquei bêbada...
ResponderExcluirsó alegre rs...